Mysterious Skin conta-nos a história de 2 rapazes completamente diferentes entre si, que se cruzaram e viveram uma experiência algo traumatizante em miudos relacionada com abuso sexual por um homem mais velho.
Este filme pareçe ter algo de Inarritu como já disse, mas também umas pinceladas de Larry Clark, sobretudo na abordagem do crescimento das 2 personagens nos seus meios de vida bem distintos.
Por um lado temos o Brian, rapaz tímido, solitário que com 8 anos teve 2 episódios em que esteve desapareçido durante 5 horas e que não guarda senão pedaços de memória desse tempo, e que entra ja em adolescente numa busca incessante por esses 2 bocados em branco na sua vida.
Do outro lado temos Neil, quase o oposto de Brian, extrovertido, o melhor no desporto, que gosta de experimentar tudo e que desde muito jovem se assume como homossexual, após uma experiência sexual com um homem mais velho!
O filme retrata as experiências de vida destes 2 jovens desde os 8 anos até à idade adulta, e é engraçado ver partes da história serem contadas pela voz do narrador, sendo o narrador estes 2 actores alternando consoante a personagem.
Este filme contem algumas cenas de violência e violação que poderão causar algum mau-estar, sobretudo a última cena de violação que se passa na casa de banho! Houve contudo por parte de Araki o cuidado de não mostrar muito o corpo nas cenas de sexo entre os miúdos ou mesmo entre adulto-miúdo, recorrendo muitas vezes à filmagem apenas da expressão facial e pequenos gestos, com a tal excepção escrita em cima!
É um filme que aborda a homossexualidade fruto de um acontecimento trágico ocorrido numa fase muito vulnerável do crescimento de uma criança, e tudo o que gira à sua volta, como o problema das doenças sexualmente transmissíveis, a prostituição, a indefinição e a confusão da sexualidade de cada um de nós.
Mas o que não está inerente ao filme, aquilo que está nas entrelinhas diz-nos que este filme é muito mais que isto! Fala da destruição da inocência e de como isso pode afectar o trajecto de vida de cada um. Fala-nos de perseguirmos uma luta na nossa auto-descoberta, sobre o passado e da importância de recordá-lo e finalmente da amizade e daquelas pessoas que por mais longe que estejam estarão sempre por perto
Araki brilhantemente dá maior importância aos diálogos em determinadas alturas, quando procura passar a mensagem de uma forma mais directa (o que aconteçe no final), e ao grafismo sobretudo naquela imagem que é repetida por 2 vezes e que representa sentimentos como a ingenuidade e a meninice e aquela cena nostálgica do Neil e da Wendy no cinema ao ar livre em que começa a nevar e ela refere que está a ouvir a voz de Deus, num momento que pareçe ter saído do nada mas que enriqueçe visualmente o filme.
As 2 imagens: as últimas palavras deste belo final:
Quem me dera haver uma maneira de ir ao passado e poder mudá-lo.
Mas não havia, e não havia nada que pudéssemos fazer a esse respeito.
Por isso, mantive-me calado e tentei dizer-lhe telepaticamente o
quão arrependido eu estava, com o que tinha acontecido.
Quando penso em toda a dor, tristeza e sofrimento que há no mundo.
Dá-me vontade de fugir.
Desejo por tudo, que pudéssemos deixar tudo para trás.
E nos elevássemos, tal como se fossemos dois anjos na noite, e como por magia....desaparecêssemos.
Pontuação: 8.5 em 10.
Referência final: de referir que este filme foi nomeado 12 vezes em várias categorias, tendo ganho 5 prémios a maioria dos quais a reconheçer o trabalho de
Gregg Araki e de
Joseph Gordon-Levitt.
Este último cresceu imenso desde o 3º calhau a contar do sol, e está um actor brilhante, depois de ter visto Brick e The Lookout e de ver o papel terrivelmente difícil que assumiu com este filme, posso afirmar que
Joseph Gordon-Levitt faz qualquer papel com mestria!
Revisto a 01/12/2007 por Manic