domingo, 16 de setembro de 2007

Alice (2005)

Portugal / Drama /102 min
REALIZADOR: Marco Martins. ESCRITOR: Marco Martins.
ACTORES: Nuno Lopes como Mário; Beatriz Batarda como Luísa.

Review: Passaram 193 dias desde que Alice foi vista pela última vez. Todos os dias Mário, o seu pai, sai de casa e repete o mesmo percurso que fez no dia em que Alice desapareçeu. A obsessão de a encontrar leva-o a instalar uma série de câmaras de vídeo que registam o movimento das ruas de Lisboa. No meio de todos aqueles rostos, daquela multidão anónima, Mário procura uma pista, uma ajuda , um sinal... A dor brutal causada pela ausência de Alice transformou Mário numa pessoa diferente, mas essa procura obstinada e trágica, é talvez a única forma que ele tem para continuar a acreditar que um dia Alice vai apareçer.
Já não via um filme português à imenso tempo, desde o Crime do Padre Amaro acho eu e este Alice veio mesmo a calhar para um sábado à noite.

É um filme em que mal reparas no uso de cores, quase sempre pintado em tons de cinzento, quiçá a condizer com o estado de espírito dos pais de Alice, com a estação do ano - Inverno (?)(chega a chover algumas vezes, Mário anda sempre de casaco).

Genial os primeiros 7 a 15 minutos, que mostra as primeiras horas do dia de Mário e um retrato de Lisboa em hora de ponta, com relevo especial aos sons, à correria para os trabalhos, à indiferença no olhar de todas aquelas pessoas que viam Mário a distribuir folhetos.

Genial a primeira frase do filme por parte de Luísa.

Um filme que retrata a a angústia e o desespero das primeiras horas à busca incessante, infrutífera e desgastante como é possível ver pelas expressões e pela brilhante caracterização da personagem Mário.

Algumas críticas em blogs como este apontam negativamente para os pouquíssimos diálogos, não consigo estar de acordo com isto, tal como na vida de cada um há alturas em que é melhor estar calado e não dizer nada, ou poucos diálogos deste filme obriga-nos a tentar preencher os espaços em branco subtilmente deixados no filme (sendo que para isso também contribui o facto dos pulos que são dados no tempo).

2 aspectos interessantes:

1 - o papel das peças de teatro protagonizadas por Mário e por 1 dos seus amigos (como escape?);

2 - a importância das novas tecnologias neste filme. Porque é que Mário recorre principalmente às câmaras de filmar para o ajudarem na sua busca ( menosprezado o papel das relações humanas) e ao mesmo tempo distribui flyers com a cara da filha pelas pessoas e pelos carros em Lisboa - grande contra senso.

bem tenho de ver este filme 2ª vez :9

É obrigatório a meu ver salientar individualmente algumas pessoas:

1 - Marco Martins, pela ousadia e originalidade, ele que vem do ramo da publicidade;
2 - Nuno Lopes, pela desempenho irrepreensível, por ter entrado tão bem nesta personagem;
3 - Bernardo Sasseti pela belíssima banda sonora, que contrasta brilhantemente com as belas imagens de Lisboa usadas no filme.

Pontuação: 7,4 dá-lhe o IMDB - perfeito.

Referência final: este filme foi vencedor do prémio Prix Regards Jeune em Cannes (melhor filme da Quinzena dos Realizadores para um júri de espectadores jovens, não-profissionais do cinema) - Primo quero fazer parte deste jurí!


Conclusão: o cinema português não precisa de padres e de gajas boas para nada! dêem um pulo a http://www.madragoafilmes.pt/alice/.

revisto por Manic a 14/09/2007

3 comentários:

Bracken disse...

Olá! N concordo é com a pontuação do IMDB, acho que o "Alice" merece mais. É o melhor filme português de sempre, pela sua consistência narrativa, pelos desempenhos, pelo rigor cinematográfico de um realizador com um talento invulgar no panorama nacional. Quando penso no "Alice", em tons negros e azuis, imagino este filme em qualquer lugar do mundo. E esta universalidade é tão incomum no cinema português.
Abraço,
Bracken

Schwarz disse...

às vezes, o maior problema de um filme é quando gera unanimidade. Este gerou. Por ser português e por ser original. Falou-se tanto na qualidade do filme e acabou por não corresponder às minhas expectativas. Dou outro exemplo de um filme português: Coisa Ruim.
Se calhar sou eu que sou preconceituoso em relação ao produto naciona.

Anónimo disse...

é assim, acho que a frase "o cinema português não precisa de padres e de gajas boas para nada" que deixo no fim responde um pouco à tua última frase. Em portugal faz-se muitos filmes a pensar demasiado no resultado final, no dinheiro e na polémica que irá gerar ("O crime do Padre Amaro", e o próximo blockbuster tuga "Corrupção") e isso não aconteçe com o Alice.
é um filme simples, que avança e recua no tempo, não tem estrutura bem definida dáí se calhar muitas pessoas que o viram não o perceberam muito bem! Acho sobretudo que este filme deveria mereçer uma 2a visualização por parte do pessoal que não gostou assim tanto, pois este é um filme de pormenores e não um filme de encher o olho..