domingo, 16 de setembro de 2007

Ônibus 174 (2002)






Brasil / Documentário /118min (há versões maiores)
REALIZADOR: José Padilha; Felipe Lacerda (co-director).

ESCRITORES: José Padilha.




Pensei algumas vezes antes de tentar colocar neste blog o turbilhão de ideias que me ficou na cabeça depois de ver este documentário, pensando que não conseguiria transmitir todas as ideias, ou não me conseguisse expressar bem. Felizmente este filme é muito discutido na net, e encontrei nalgumas críticas pontos chave em comum com o que senti.



Review:



Aviso: Contém Spoilers.


É um filme que retrata os acontecimentos de um sequestro de um autocarro no Rio de Janeiro, mas que consegue ir para além desta temática e utiliza este acontecimento como ponto de partida para traçar um pouco das várias problemáticas sociais que assolam a população brasileira, relacionando sempre com o caso particular do Sandro (o grande protagonista).


Estruturalmente trata-se de um documentário que conta duas histórias ao mesmo tempo intercaladas: uma a partir de imagens retiradas das várias cadeias de Tv brasileiras sobre o caso - ônibus 174 e outra sobre a trajetória traumática da vida de Sandro (vê a mãe morrer à sua frente, desalojado, pequenos roubos, vida na prisão).


Este documentário que saiu em Outubro de 2002, encaixa na perfeição com a expressão "pôr o dedo na ferida". E a força maior deste documentário consiste nisso mesmo, expôr com clareza tudo o que se passou no sequestro do ônibus 174 no dia 12 de junho de 2000, junto ao bairro do Jardim Botânico - Rio de Janeiro e contextualizar a vida do sequestrante -
Sandro Barbosa do Nascimento - tentando correlacionar as suas acções com o passado traumático que ele teve.
Segundo o Jornalista António Cândido este filme procurou fazer o que a TV jamais sequer tentou: explicar ou contextualizar todas aquelas imagens tão violentas e chocantes que todos sempre adoramos assistir e que depois tentamos rapidamente esquecer.



Queria só lembrar que as TV´s brasileiras acompanharam este sequestro desde praticamente o seu início até o desenlaçe final. Ou seja, passarm sem qualquer tipos de corte, os 3 tiros disparados dentro do autocarro, sendo que um deles foi dirigido a uma rapariga, que todos lá em casa julgaram morta, a polícia inclusive - o que era falso - e a cena final (SPOILER) em que o sequestrante + uma refem se envolvem numa louca troca de tiros cm 1 polícia - tudo em DIRECTO (imaginem só o escândalo que aquela TV portuguesa que nos sabemos quem é não faria)!


Este sim é um ponto quente que daria um bom tema para A Grande Reportagem.




Algumas questões valem a pena ser alvo de debate:




Até onde pode ir a cobertura televisiva? Podem ser estabelecidos limites? O que se pode fazer perante informações erradas por parte da comunicação social(CS)? Até que ponto devemos acreditar na visão única do mundo por parte da CS?


Segundo o estudo em que me baseie: A intenção de José Padilha, diretor do documentário, é trazer à tona o período de “invisibilidade” de Sandro, com o objetivo de tirar o espectador da inércia e acordá-lo para o problema que está à sua volta.




Precisam-se de mais José Padilhas no Mundo !!!



2º Ponto - Quem nos protege da Polícia?


No final do sequestro uma estupidez de um polícia quase que estragava o esforço de várias pessoas durante aquelas 4 longas horas. A juntar a isso permanece no segredo dos deuses a forma como o sequestrado e morto no carro da polícia que o levava ao hospital.


O soldado que disparou contra o sequestrador, acertando somente a refém Geisa Firmo Gonçalves, consegue sua absolvição em 2002, através do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. No mesmo ano, no dia 11 de Dezembro, os policiais militares acusados da morte de Sandro são absolvidos pelo júri popular por 4 votos a 3, em mais de 20 horas de julgamento no 4o Tribunal do Júri. Os jurados se convenceram de que o próprio bandido se sufocara ao tentar se libertar dos policiais. Pelo amor de DEUS!!!



Pontuação: concordo plenamente com os 7,9 do IMDB.


Referência final: este documentário foi nomeado e premiado várias vezes, inclusive no bastante falado Havana Film Festival.


CONCLUSÃO: acho que não é preciso acrescentar mais nada..


revisto por Manic a 16/09/2007

1 comentário:

Anónimo disse...

Vi o filme e fiquei com pena da Geísa que morreu inocentemente mas mais ainda de Sandro que foi executado friamente pela policia para encobrir o erro deles. Quando Geísa levou o primeiro tiro (na cara) dado por um policia, ela morreu na hora. Os outros 3 tiros que 'dizem' que sandro lhe deu nas costas depois disso já depois de estar no chão com um polícia em cima dele e a debater-se para se livrar vivo foram reflexo ou até derivados da pressão que o polícia fez para lhe tirar a arma. Seja como for um tiro na cara minha gente, mata qualquer um e bala em mortos nao magoa (com todo o respeito com a alma de Geísa mas onde ela estiver ela sabe que quem a matou foi a policia e nao o sandro).

O povo correu para matar o sandro... e quando ele precisou? Ele esteve toda a vida à espera que alguem corresse para o ajudar mas bastou uma tarde para uma multidão correr para o matar. Quem fez o sandro foi essa gente que nao quer ver, que ignora e se fecha no seu mundozinho de perfeito de merda e tacanho. Quando a polícia matou o sandro... não matou durante o sequestro quando se justificava, não o matou quando ele estava a se debater com o policia, matou-o quando ele estava indefeso na parte de tras de um carro policial. Isso na minha terra e em todo o lado é cobardia e desumano. Até quando se atropela um animal na autovia se tem pena mas um sandro não... O Sandro ameaçou mas nunca teve intenção de matar, o povo brasileiro (em especial os que assistiam e os policias) esses sim, dizem e matam geral!

O funeral da Geísa estava repleto de estranhos que simbolicamente foram prestar homenagem a quem nao conheceram em vida (pura hipocresia, só para dizer mais tarde aos amigos que estiveram lá como quem coloca uma tshirt dizendo "mãe estou aqui" só porque vão aparecer na tv) e no do sandro, quantas pessoas estiveram??? A mãe adoptiva e mesmo assim foi pressionada!!

A maior victima foi ele, foi victima dos assaltantes que mataram a mae dele à frente dele, foi victima dos policiais que mataram amigos dele na candelaria com o exterminio dos meninos de rua, foi victima da pobresa, do regime e da politica corrupta, mas foi principalmente victima da merda do povo que nada faz para ajudar o próximo, foi victima da indiferença e da exclusão social.

Tenham cuidado quando falam do sandro ou de qualquer outro sandro por esse mundo fora. Pensem que podia ter sido um filho vosso. Pensem que podiam ter sido vocês. Imaginem o percurso da vossa vida igual ao dele e ainda assim ele nunca matou!!

Quem tiver consciencia limpa que atire a primeira pedra ou se reduza à merda que é porque se nunca ajudou alguem de nao se tornar em mais um sandro a merda é você meu amigo. A culpa do que acontecer é sua porque não fez porra nenhuma.