sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Irreversible (2002)

Realizador: Gaspar Noé
Actores: Monica Belluci (Alex), Vincent Cassel (Marcus), Albert Dupontel (Pierre)
O cinema sempre fez parte do nosso imaginário. Grande parte das nossas vivências são, inevitalmente associadas a determinadas cenas que vimos nos filmes. Para mim, é aí que reside a magia do cinema. É saber cativar, surpreender, deliciar e deleitar o espectador. No caso de "Irreversible" percebe-se desde os primeiros minutos que o objectivo de o realizador é enojar e traumatizar o espectador.
"Irreversible" é um filme francês do cineasta argentino Gaspar Noé, que foca o impacto de uma violação a uma mulher, no namorado e no melhor amigo dele. O filme é revelado de forma inversa, do mesmo modo de "memento" (Cristopher Nolan, 2001), sendo contado do fim para o início. Na primeira cena do filme, assistimos a um diálogo bastante bizarro entre dois homens sobre o tempo ("O tempo estraga tudo", curiosamente a última frase do filme), elemento muito preponderante na "compreensão" do filme. Divido este filme em duas partes: a primeira hora do filme narra várias cenas nocturnas, entre as quais, uma viagem insana a um clube gay chamado "rectum", uma morte chocante e uma violação ainda mais chocante. Esta última cena é incrivelmente perturbadora, e até hoje, considero essas cenas, especialmente a da violação uma das cenas mais horrídas que jamais vi no cinema.
Já vi muitos filmes na minha vida sobre pedofilia ,sexo, drogas e depravidão sexual("Mysterious Skin", Greg Araki, 2004, "Kids" Larry Clark, 1995,"Drugstore Cowboy, Gus Van Sant, 1989,"Salo e os 120 Dias de Sodoma", Pier Paolo Pasolini, 1975), que são sempre temas delicados de se abordarem, mas nunca me senti tão repugnado e enojado por um cena. Talvez seja eu que não lide bem com violações,mas acho que todos concordarão que a cena da violação é excessivamente cruel e traumatizante de se assistir (para além de desnecessariamente longa).
Já a segunda hora do filme narra os acontecimentos que precederam a violação. Filmada num estilo mais suave e subtil, assistem-se a diálogos sobre os temores, desejos e confissões do casal.
Decerto, alguns leitores acusar-me-ão de conservadorismo e de ser ataísta no que diz respeito à utilização das novas tecnologias no cinema e da abordagem de temas tão sórdidos como os que retrata "irresistible". Não é o caso. "Requiem for a Dream" (Darren Arofnosky, 2001) e "Fight Club" (David Fincher, 1999) são filmes com uma estética similar, utilizando planos de câmara alucinatórios , e improváveis e são, contudo, alguns dos meus filmes preferidos.
No que diz respeito aos temas explorados neste filme, defendo-me afirmando que David Cronenberg (o rei do horror), Greg Araki (a cena de violação em "Mysterious Skin" é das mais perturbadoras que já vi, e no entanto é dos meus filmes preferidos, porque existe um objecto concreto) e David Lynch (A morte de Laura Palmer em "Fire Walk With Me" é brutal mas redentora)são dos meus realizadores preferidos.
O problema de "Irreversible" é que se ocupa exageradamente da violência. Carece de um objecto fílmico redentor, e quanto o tenta, alimenta-se de intelectualismos "baratos" que a muitos provavelmente fará sentido, mas na minha opinião não passam de fatuidades.
Aspectos positivos- A coragem de Monica Belluci ao ter aceite o papel. Talvez a mostragem da cena da violação em algumas prisões, incutiria algum humanismo aos violadores. Boa banda sonora de Thomas Bangalter (membro dos daft punk), uma composição musical demarcada por ritmos industriais e technos. Curiosamente, é bastante animada para um filme tão soturno. Aconselhável.
Aspectos negativos- A pretensiosidade do filme. Gaspar Noé afirmou numa entrevista que pretendia enojar o público com o filme. Consegui-o..Parabéns senhor Noé, criou uma das obras mais nauseabundas que alguma vez vi. Não o vou esquecer tão depressa..mas pelas piores razões.

3 comentários:

Anónimo disse...

então tens de ver o Visitor Q

Anónimo disse...

Ya, concordo com tudo o k disseste neste review, é mesmo um filme deveras perturbador mas brilhante ao mesmo tempo.
Visitor Q tbm é bem doidinho.

Anónimo disse...
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