terça-feira, 30 de outubro de 2007

Dot.com (2007)

Dot.com
Portugal / Comédia light / 103 min
Realizador: Luís Galvão Teles. Escritores: Suzanne Nagle, Gonçalo Galvão Teles (adaptação portuguesa de diálogos). Actores: João Tempera como Pedro, Marco Delgado como Victor, Isabel Abreu como Ana, María Adánez como Elena.

Review: Dot.com é um filme simples, em que a história principal nos é contada logo na primeira meia hora de filme e que vem nos traçar o perfil sociológico quase perfeito dos habitantes de uma aldeia portuguesa completamente rural, sendo que podemos na minha opinião, pegar nesta caracterização e levá-la ao meio urbano, às grandes cidades e mesmo às ilhas.
Neste perfil que nos é traçado só se esqueceram de uma coisa - o Futebol (se bem que ele é lembrado, mas apenas por um instante), porque de resto está lá tudo. O cafézinho pela manhã, as bilhardices, o atirar o cigarro para o chão e apagá-lo com o pé, os vizinhos a meter o bedelho, o papel da igreja, os maridos à espera que acabe a missa nos degraus da igreja, temos um presidente de junta igual a tantos políticos que por aí andam, um louco, o padre e os seus sermões..e muito outros grandes pormenores que não me recordo.
É focado também com bastante frequência o papel da informação, da internet que por incrível que pareça existe na vila só que é apenas usada pela única pessoa com formação superior na vila - o engenheiro Pedro.
Não se trata de um grande filme, e na minha opinião esta poderá ser uma comédia, mas uma comédia light, pois nem me lembro de dar uma gargalhada no verdadeiro sentido da palavra, à excepção de umas tiradas do gajo que era contra os espanhóis!
Depois, é preciso estar atento a conversas que aparentemente são banais mas que depois nos ajudam a completar a história, houve aspectos do filme que só percebi perto do fim (como quem era a "Concha")!
Pontuação: dou-lhe um 5.5.
Conclusão: não estamos definitivamente perante um grande filme, podem e devem vê-lo se procuram um filme light e bem disposto. Acima de tudo não criem grandes expectativas como eu criei ao ver o trailer tantas vezes na Tv, porque quiseram nos vender uma coisa e tivemos outra.

sábado, 20 de outubro de 2007

Turtles can Fly (2004)

Turtles can Fly
Irão-Iraque / Drama / Guerra/ 98min
Realizador: Bahman Ghobadi. Escritor: Bahman Ghobadi. Actores: Soran Ebrahim como Satellite, Avaz Latif como Agrin, Saddam Hossein Feysal como Pashow, Hiresh Feysal Rahman como Hengov, Ajil Zibari como Shirkooh, Abdol Rahman Karim como Riga. (pequenos grandes actores).


Review: Antes de começar deixem-me só gritar SATELLITEEE! Bem como tenho ouvido muitas críticas a apontar para demasiada atenção ao cinema comercial, que tal uma produção Irano-iraquiano?humm?

Primeira impressão vai para a emotividade deste filme, como é centrado muito em crianças e nos traumas da guerra não é nada aconselhável às Marias choronas que por aí andam.


Este filme centra-se numa pequena aldeia situada na fronteira do curdistão iraquiano com a Turquia, focando especialmente um grupo de crianças (algumas órfãs de guerra) com 10 a 14 anos lideradas pelo maiorzinho deles todos, o único rapaz da aldeia que fala meia dúzia de palavras em inglês e que tem como apelido - Satellite, por se dedicar à instalação de antenas em redor da aldeia.

É um filme que procura retratar: o quotidiano de um Iraque no pré guerra; os horrores que advêm da guerra em si, focando especialmente as mutilações, o mercado negro, a subida dos preços e o flagelo das minas terrestres e finalmente a esperança de um futuro melhor após a vitória dos americanos.


Bahman Ghobadi consegue brilhantemente e através dos olhos das crianças iraquianas, retratar as situações referidas em cima e consegue ainda usar da ironia em situações muito específicas:

  • um dos miúdos refere que Zinedine Zidane é americano;
  • um dos miúdos consegue comprar no mercado negro uma parte do braço da estátua de Saddam que nós tantas vezes vimos cair pela TV.

À atenção de todos nós, Ghobadi "critica" as acções armadas tantos do exército americano como do iraquiano!


Outro aspecto que me marcou bastante foi a crueldade com que diversas situações da vida das personagens é tratada, nomeadamente:

  • o trauma pós -violação que atinge a personagem feminina, que transporta toda essa raiva para tendências suicidas para consigo e homicidas perante a criança que trata e que não é dela;
  • a mutilação da personagem Hengov e a forma como este se adapta a uma vida sem braços.

Uma outra faceta deste filme é a importância dada por Ghobadi ao poder da informação e á forma como a mínima notícia externa é capaz de mobilizar toda uma aldeia (falamos de 3000 pessoas) em roda de uma única Tv com parabólica e ao poder de falar uma segunda língua (neste caso o inglês).


Pontuação: dou-lhe um 8.5 em 10, pela coragem deste realizador, pela aposta num filme em que as personagens principais são todas crianças e pela universalidade que um filme que retrata a vida numa aldeia isolada do Iraque conseguiu ter.


Conclusão: Recomendo vivamente este filme: a todos os senhores da guerra; ao público em geral e especialmente a todos aqueles que julgam que não viveram a sua juventude como gostariam (vejam o filme e irão perceber :) ).


Referência final: este filme ganhou: o Glass Bear - Special Mention e o Peace Film Award do Berlin International Film Festival; o Golden Dolphin do Festróia - Tróia International Film Festival; 2 prémios dados pela audiência nos festivais Rotterdam International Film Festival e Mexico City International Contemporary Film Festival etc, etc

revisto por Manic a 21/10/2007